Em alguns países no mundo, a lei
possibilita que um réu seja condenado a uma prisão perpétua ou até mesmo à pena
de morte, mas existem leis que são muito mais rígidas do que qualquer carta magna,
pois capazes de deixar-nos presos e mortos eternamente. Sou Bruno, advogado
criminalista, vou relatar agora um caso que mostra que, quando a vida é
administradora, o julgamento é um ato discricionário.
Com a visão massacrada pelo tempo,
olho parta frente e deparo-me com um nostálgico álbum de fotografias, ao
folheá-lo, num breve e silencioso instante, mergulho em um passado
atormentador, que me coloca novamente defronte ao dilacerante desespero, meu
único e quase inseparável companheiro. Com a perda de minha esposa,
fiquei sozinho, pois não tive filhos, também não quis transmitir a nenhuma criatura o legado de nossa miséria.
Certa vez, defendendo um assassino em juízo, tive a mais
bela atuação em toda minha carreira, consegui convencer o júri da inocência do
sujeito, mesmo após o próprio ter-me confessado a sua culpa.
Algumas semanas depois, num sábado à
noite, eu e Isabela, minha esposa, estávamos num restaurante a ler sinopses de
filme que havíamos adquirido, quando ecoou em nossos ouvidos um grito
assustado: “É um assalto!” Tratava-se do mesmo homem que outrora eu defendera,
todos entram em pânico e, quando um dos presente, fez menção de reagir,
ouviu-se o estampido. E lá estava Isa com um projétil cravado no meio da caixa
craniana e sagrando abundantemente, sem nem ter tido o direito de dizer suas
últimas pronúncias.
Hoje, sou doente, meu corpo não aguenta mais nada, meu
coração é um mísero instrumento que mal bombeia sangue, meu cérebro não passa
dum gerador de sentimentos desesperadores. Farei com que este momento seja o epílogo
da existência, creio eu que apenas simbólico, pois meu epitáfio acompanha-me
desde o momento da minha desgraça.
Bruno Máriston